Voz| Maynard James Keenan
Guitarra| Adam Jones
Baixo| Justin Chancellor
Bateria| Danny Carey
Os Tool são uma das bandas que levaram às últimas consequências a fusão da arte com o rock. Embora as suas longas
composições não se encaixem no modelo pop imposto pelo mainstream, o grupo adquiriu admiradores por todo o mundo.
Isto deve-se em parte aos videoclipes desenvolvidos pelo guitarrista Adam Jones, verdadeiras
curta-metragens de altíssimo nível, também editados e produzidos pelo resto da banda.
A história dos Tool
começa em 1990, quando Maynard James Keenan, aluno da Kendall
College of Art & Design, conheceu Adam Jones, técnico em efeitos
especiais do estúdio de Stan Winston. Eles descobriram ter outra coisa em comum fora a fascinação por arte comtemporânea:
a música. Maynard e Adam começaram a compor juntos e chamavam dezenas
de músicos para ensaiar. Usavam o estúdio de ensaio pessoal de Danny Carey, vizinho
de Maynard e amigo de Adam. Danny foi apresentado a Adam por Tom Morello
(ex-guitarrista dos Rage Against The Machine), com quem
Adam havia tocado baixo numa banda chamada Electric Sheep. Por indicação de Morello,
Danny Carey ofereceu-se para tocar bateria com Maynard e Adam, pois ao mesmo tempo sentia pena dos dois por não acharem ninguém
para tocar (as pessoas que eles chamavam nunca voltavam ou então nem sequer apareciam).
Na mesma época,
Paul D'Amour tinha se mudado para Los Angeles para trabalhar no meio cinematográfico
(área em que Adam Jones estava a trabalhar, realizando efeitos especiais para O Exterminador 2,
Jurassic Park e Predador 2). Paul era na verdade um guitarrista, e já estava a desistir de ser músico quando conheceu Adam
Jones, que o convidou para tocar. Uma curiosidade é que D'Amour estava sempre de mau-humor, e a sonoridade das músicas encaixavam-se perfeitamente
com sua personalidade. Com a banda formada, começaram a ensaiar regularmente na casa de Danny Carey. Depois de quase se chamarem
Toolshed, escolheram a alcunha de Tool, pelo fato de quererem que sua música fosse uma "ferramenta" para a compreensão da
"Lacrimologia", a "ciência do choro" como terapia, que consiste em evoluir explorando a dor física e emocional.
Após certo tempo, começam
a abrir shows para os Rollins Band, Rage Against
The Machine e Fishbone. Nessa época, gravaram demos de quatro
canais das canções "Cold & Ugly", "Hush", "Part Of Me", "Jerk-Off", "Crawl Away" e "Sober".
De todas, apenas as quatro primeiras entrariam no EP "Opiate",
lançado em Abril de 1992, pela Silvertone Records, da Virgin. Os membros dos Tool declaram que erraram
de certa maneira na escolha das faixas do EP, justamente porque pegaram apenas nas composições mais pesadas e curtas, e todos
que o ouviram acharam que se tratava de uma banda de trash metal. Sendo assim, a banda conseguiu uma certa exposição e boa
vendagem com "Opiate". Gravaram um clipe em VHS para "Hush" (dirigido por Ken Andrews, do Failure),
onde todos da banda aparecem amordaçados e nus, com uma placa escrita: "Parental Advisory: Explicit Parts" cobrindo as suas
partes íntimas. Faz sentido, desde que a música fala sobre censura. Mesmo assim, o vídeo não foi lançado de maneira oficial,
pelo fato de que a MTV nunca passaria um clipe com este conteúdo na época! Mas isso não impede que a faixa "Sweat"
apareça na trilha sonora do filme "Scape From L.A". Em Abril
de 93, chega às lojas "Undertow". Ou pelo menos, uma versão "domesticada" do primero álbum dos Tool: algumas lojas trocaram a capa original
(um desenho de uma escultura de Adam Jones, uma espécie de caixa toráxica vermelha com costelas em forma de tentáculos) por
um código de barras gigante. A parte interior e traseira do encarte ainda trazia fotos como uma mulher extremamente obesa
nua, sozinha, e uma outra foto da mesma mulher com um homem nu deitado sobre ela, além de uma radiografia com um enorme vibrador
dentro de uma cavidade anal. Em edições não censuradas, existem também fotos de uma vaca lambendo suas genitálias e um porco
empalado por uma série de garfos (esta uma montagem confirmada). Como a arte gráfica do álbum sugere, este sim é um album
cru e verdadeiro do Tool, com nuances mais melódicas e densas, com as menores faixas a terem cinco minutos.
Com o álbum catapultado pelos vídeos de "Sober" (dirigido por Adam
Jones e Fred Stuhr, ganhou as categorias de "Melhor
Artista Novo" e "Melhor Clipe De Hard Rock/Metal" na MTV) e "Prison Sex" (este o primeiro clipe
totalmente dirigido por Adam), os Tool conseguiram ser uma das atrações principais do Lollapalooza '93. "Undertow"
traz também como destaque "Intolerance" (que claramente faz alusões ao período em que Maynard serviu o Exército Americano nas linhas "You lie, cheat
and steal" em oposição a "I will not lie, cheat or steal", princípios adquiridos dos soldados). A
enorme "Bottom" tem participação especial de Henry Rollins;
"Swamp Song" e a faixa-título fazem alusão ao uso de drogas, o tema principal do álbum. A última faixa,
"Disgustipated" é uma narrativa sarcástica sobre o que seria o apocalipse que as cenouras enfrentam em
todos os dias de colheita, com o som de machados e marretas marcando o tempo... Bizarro!
Depois de "Undertow", os Tool mergulham em tournées intermináveis para promover o disco e as especulações
de que eles se tratavam de uma banda satanista aumentam junto com a popularidade que conquistam a cada apresentação. A banda
não se sentiu ameaçada por isso, pois o que eles sempre previam era que as pessoas ficassem perturbadas pela sua proposta.
A letra de "Prison Sex", por exemplo, pode-se tratar de abusos sexuais
que Maynard teria sofrido na infância, tornando-o um ser mórbido e sadomasoquista. Mas até hoje nada disso foi provado; o
que se sabe é que Maynard foi criado por uma família Batista opressora, daí sua possível revolta contra religiões ortodoxas.
Os Tool ficam parados um bom tempo até começarem as gravações de "Ænima", em 1996. O título é uma junção das palavras "Anima" (um termo psicológico de Carl
Jung) e "Enema" (inimigo). Poderia também ser uma homenagem a um livro recomendado pela banda, chamado "Ægypt".
Durante o processo de composição, Paul D'Amour anuncia que está de saida da banda.
Paul mostrou interesse em outros estilos de música, e procurava algo mais experimental (?). O grupo começa então a testar
outros baixistas, entre eles Frank Cavanagh dos Filter, Scott Reeder dos Kyuss,
e Shepherd Stevenson, dos Pigmy Love Circus.
O escolhido foi Justin Chancellor, dos Peach,
banda que havia tocado com os Tool na Europa em 1994. Justin não aceitou o convite de imediato,
porque os Peach tinham terminado há seis meses e ele estava formando um projeto com o guitarrista da sua antiga banda, com
quem tocava desde os 14 anos de idade. Percebendo que não poderia deixar a oportunidade para trás, entrou para os Tool.
Quando "Ænima" foi lançado, os Tool sofreram logo uma
represália: o clip de "Stinkfist" (primeiro single do disco) foi rejeitado pela MTV, que alegou
que o título da música era ofensivo. Depois da represália por parte dos fãs, a emissora passou a exibir o vídeo com o nome
de "Track #1", por ser a primeira faixa de "Ænima".
O fiasco da MTV não atrapalhou as vendas de "Ænima". Pelo contrário, até favoreceu. Todos queriam saber o
que havia de tão absurdo numa canção. Mas de certa forma até havia: em certa parte da música, (2:45, para ser exato) Maynard
murmura, quase que subliminarmente: "Chupa minha pica pinto pichu" (em português mesmo)! Aliás, esta é uma das coisas mais
atraentes de "Ænima": as mensagens subliminares. Em
quase todas as faixas Maynard está sussurrando algo, inteligível ou não.
Fora as mensagens subliminares, "Ænima" é o disco essencial para quem quer conhecer os Tool. Faixas memoráveis como "Eulogy",
"Forty-Six & 2", "Hooker With A Penis", "Pushit"
e "Ænema" figuram harmonicamente com vinhetas inteligentes: "Useful Idiot",
"Message To Harry Manback", "Intermission" e "Die Eier Von Satan" (não tem nada a ver com nazismo, aquele "discurso" em alemão é apenas uma receita de um tipo de cookie!). O
trabalho gráfico da capa do "Ænima" também é excepcional, com holografias estranhas
e soturnas, tanto que o grupo foi nomeado para "Melhor Capa de Álbum" no Grammy de 1996. No mesmo ano, os Tool ainda
foram indicados para melhor vídeo clip e Curta-Metragem por "Stinkfist".
É nesta época que Maynard começa a apresentar-se nos shows totalmente careca, com
o corpo inteiramente pintado ou então vestido de mulher, adicionando mais estranheza à perfomance dos Tool. A meio da
imensa tournée, a banda lança o single e o clipe de "Ænema", concorrendo
a prêmios na MTV, que desta vez não censurou a criatividade do grupo. "Ænema" chega a ganhar um
Grammy de "Melhor Performance de Metal", em 1997.
Após o estouro dos shows de promoção do "Ænima", os
Tool resolveram dar um tempo. Maynard grava "Know Your Enemy" com os Rage Against
The Machine e faz um dueto num show com Tori Amos, cantando
"Muhammad My Friend". Ele forma ainda os Shandi's
Addiction, com Billy Gould (Faith
No More), Tom Morello e Brad Wilk
(guitarrista e baterista dos Rage Against The Machine),
para participar do disco-tributo para os KISS ("Kiss
My Ass"), gravando a música "Calling Dr. Love".
A Volcano Entertainment, gravadora dos Tool, não gostou nada disso, e processou a banda por ter violado
cláusulas do contrato, alegando que o grupo estaria a participar em projetos paralelos, e assim procurando novas propostas
de contrato. A briga durou mais de um ano, até que no final ambas as partes resolveram fazer um novo acordo, evitando medidas
judiciais. Os Tool renovaram o seu contrato, incluindo a gravação de mais três álbuns.
Passado o stress com a sua
gravadora, os membros envolveram-se em apresentações/gravações ocasionais com bandas de amigos: Adam Jones toca
em alguns shows com os Melvins e monta uma banda experimental com King
Buzzo, chamada Noiseland Arcade, fazendo alguns shows
em 1998. Um bom tempo depois, Maynard começa a ter mais contato com outros músicos,
organizando o projeto Tapeworm, com Trent Reznor e Danny Lohner, ambos dos Nine Inch Nails. Eles chegam a compor sem compromisso, mas não gravam nada de oficial.
Mais tarde, Maynard restabelece
contato com Billy Howerdel, técnico de som das sessões de "Ænima". Howerdel mostra as suas composições e Maynard oferece-se para participar no
projeto que ele estava a montar com a baixista Paz Lenchantin. Forma-se os
A Perfect Circle, a ocupação de Maynard durante um certo tempo.
Com os Tool paralisados por conta de problemas
contratuais, Maynard dedica-se completamente aos A Perfect Circle. Formado por Maynard, Billy
Howerdel, Troy Van Leeuwen, Paz Lenchantin e Josh Freese, o grupo começa a tocar em shows beneficientes, e abre a tournée de 2000 dos Nine Inch Nails. Tentando enganar
os seus fãs, Maynard passa a usar uma peruca. Mas é logo descoberto, por causa da grande atenção que os A Perfect Circle acabam
despertando com o álbum "Mer De Noms". Por ter canções mais melódicas e curtas, os A Perfect Circle tornam-se mais acessíveis que os Tool, encontrando
um sucesso imediato e maior do que a banda principal de Maynard havia conseguido até então. Quando os A Perfect
Circle deram um tempo, os Tool imediatamente voltaram às actividades. Para acabar com os boatos de que a banda havia acabado,
eles lançam, em 2000, a box "Salival", que se
trata de um DVD com os cinco clipes da banda e um CD com faixas ao vivo e raridades. Dentre dos destaques, a incrível versão
de "No Quarter", do Led Zeppellin, "You Lied"
(cover dos Peach, de Justin Chancellor), a faixa escondida
"Maynard's Dick" -que só pelo título, dispensa comentários- e "Pushit", numa
versão ao vivo mais longa que a original. A arte gráfica é invejável, sendo que a embalagem é uma pequena caixa negra com
um livreto (tipo P.U.L.S.E. dos Pink Floyd) com fotos de shows e cenas dos vídeos.
Enquanto que "Salival"
vai matando a saudade dos fãs, os Tool vão gravando um novo álbum em estúdio. Neste
mesmo tempo, a banda demite o empresário Ted Gardner, que também ameaça processar a banda, alegando que eles lhe devem dinheiro.
Mas o caso é logo abafado e nenhuma notícia sobre o ocorrido passa para a imprensa. Após seis anos
desde o lançamento de "Ænima", "Lateralus" é
lançado. O disco supera todas as expectativas, encabeçado pelo clipe futurista de "Schism", que
aparece com "Mantra" como introdução. A banda aparece revigorada, com
Adam Jones mais refinado, mostrando mais técnica nos seus riffs (sem ser virtuoso). A voz de Maynard, adocicada pelos
A Perfect Circle, mostra a sua beleza em "Reflection" e "The Patient"; mas ao mesmo tempo rasga enraivecidamente como em "The Grudge" e "Ticks And Leeches" (a qual a banda não costuma tocar regularmente ao vivo, visto
que Maynard força demais a sua garganta). Uma obra prima como "Ænima", mas com algo mais "luminoso", onde a banda parece ter assimilado e dosado bem algumas influências da ideologia
Hindu. A banda ganha mais um Grammy, desta vez por "Schism".
Os Tool lançam ainda os clipes de "Parabol" e
"Parabola", coladas como na sequência do álbum, resultando num único vídeo
enorme e que dificilmente é transmitido pela MTV. Mas os Tool realmente não precisam mais da MTV para serem bem sucedidos
e chamar a atenção de novos fãs. Terminada a tournée de "Lateralus", em 2003 Maynard volta a reunir-se com os A
Perfect Circle e planeia o lançamento do segundo álbum do grupo, Thirteenth
Step. Danny Carey dedica-se a estudar percussão com seu professor
Aloke Dutta e a gravar com os Pygmy Love Circus,
enquanto que Adam segue a sua carreira com efeitos especiais e escreve material
novo para os Tool com Justin Chancellor.
Texto extraído do site www.dyingdays.net (com algumas modificações)
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