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"Existe aquela velha máxima de que, para sermos completos enquanto seres humanos, devemos levar a bom porto três "tarefas":

- constituir família;
- escrever um livro;
- plantar uma árvore.

Deixem-me que vos diga que ver Tool ao vivo devia ser um tópico a incluir nesta "lista".

Para quem como eu viu a banda neste passado SBSR, ficou aquela fome de os ver de novo se possível em nome próprio. Para quem esperou pacientemente que a profecia "See You In The Fall" se cumprisse, o passado dia 5 foi o dia em que esta promessa se cumpriu.
Faço uso prepositado destas expressões porque para mim, ver este quarteto ao vivo foi uma experiência quase mística. De facto apreciadores ou não, são muitos os que reconhecem que um espectáculo protagonizado pelos Tool tem uma riqueza cénica que raramente se encontra hoje em dia. Muitas vezes nos apercebemos de que nos encontramos naquela dúvida do "para onde devo olhar?", tal é a vontade de querer absorver tudo o que nos rodeia.


Algumas considerações em relação aos membros da banda:
Adam Jones: já tenho ouvido diversas "queixas" em relação ao seu comportamento em palco. De facto o Adam é o elemento imóvel no cenário, e tirando raros momentos em que ergue o olhar, a sua postura é sempre compenetrada. Não acredito que isto seja fruto de antipatia, mas antes de uma personalidade extremamente introvertida. Não obstante, revelou-se exímio, aliás como sempre.
Justin Chancellor: podemos dizer que o Justin será o oposto de Adam. Sempre muito comunicativo, a emoção transpira a todo e qualquer momento, é a expressão constante de uma alegria contagiante. Tenho-lhe a agradecer um dos momentos mais especiais do concerto a nível pessoal. Durante a Schism, quando um dos holofotes iluminou a mancha de plateia onde me encontrava, ele olhou atentamente para nós e presenteou-nos com um grande sorriso... Priceless!
Maynard Keenan: é a personificação da excentricidade. Apresenta-se em palco com uma máscara de gás com o microfone já incorporado (o que aliás lhe conferiu uma maior variedade de movimentos em palco). A voz impecável, e para surpresa de muitos, eu diria até que apresentou uma "pontinha" de boa disposição...
Danny Carey: deixei o Danny para último lugar porque este Senhor simplesmente rouba o espectáculo! No lugar onde me encontrava, tinha uma visão privilegiada para o arsenal massivo que é a sua bateria, ricamente decorada com diversas mandalas. De facto, a vista era tão boa que era possível ver as expressões faciais dele durante o concerto. A verdade é que tinha de relembrar várias vezes a mim própria "olha para outro lado, estás a perder o resto do espectáculo!", mesmo assim confesso que acabei por negligenciar um pouco os outros três membros da banda mas, ver este Senhor ao vivo é... um autêntico orgasmo.

Em relação à setlist, fica uma certa tristeza por ter sido idêntica à do SBSR (à excepção de uma música). E apesar de não terem tocado o tema que mais queria ouvir naquela noite (Wings), na soma de todas as partes, o concerto foi tão bom, que nem me vou queixar da setlist. Como prémio de compensação, num dos interlúdios, tocaram a Merkaba, o que me deixou radiante.


Momentos altos da noite:
Lateralus, sem dúvida esta fica como um eco na memória de todos os que estiveram presentes;
Sober, o eterno clássico que a plateia entoa de forma tão convicta;
Rosetta Stoned, adorei a sequência de imagens nos ecrans (pirâmides, eneagramas e dois monógrafos de Carfax da autoria de Crowley, entre outros) que encaixaram perfeitamente na atmosfera psicadélica da música.

A única nota negativa do evento vai para o facto de a maior parte das pessoas só terem assegurado a entrada no recinto quando os Mastodon já se encontravam em palco, o que de facto é deplorável, considerando que esta banda nos proporcionou uma actuação muito coesa digna de uma ressalva extremamente positiva.

Devo dizer que a colmatar uma noite memorável, veio ainda uma chuvinha bem agradável que a maioria acolheu de ânimo leve. Saí de lá com a alma verdadeiramente "lavada".
Meditemos agora nas palavras do "Reverendo": "See You Next Summer"

Se assim for, vemo-nos lá... onde quer que seja!

Peace out..."

 

                                                 Mrs. Self Destruct (11 Novembro 2006)

 

 

 

  

   "Devo confessar que só me apercebi da existência destes quatro senhores quando vi pela primeira vez o videoclip "Schism", em finais de 2001, duma tal banda de seu nome Tool. Não sei se por ser da acuidade musical ainda não se encontrar totalmente desenvolvida, o que me impressionou mais foi, obviamente, todo o trabalho artistico envolvente em pouco mais de sete minutos. É de facto magistral todo o artwork criado ou co-produzido pelo guitarrista Adam Jones, onde atingindo o seu climax, uma especie de bola de fogo consome todo ecrã, em harmonia perfeita com a batida grutural de Danny Carey . No dia seguinte, não me fiz rugado e comprei o albúm, Lateralus, e não sei muitos de vocês repararam depois de abrirem tamanha preciosidade que a caixa vinha ao contrário do envolucro negro! E porquê? Porque alguém se deu ao trabalho de reparar que nas letras onde está mencionado o título do albúm na parte inferior direita da capa negra, o livrete contém elementos que formam circúlos que sobrepostos oferecem uma ilusão de formas em três dimensões, onde caso contrário não resultaria. Genial!

   Mas o que realmente importa ressalvar é o turbilhão que constantemente nos atropela a cada momento, e não falo só unicamente neste último albúm, mas também na autêntica obra de arte, e não se espantem com o termo, pois quem ouviu sabe que não se pode chamar outra coisa, "Aenima", o mais negro e inspirado retrato da essência que esta banda transpira. As letras de Maynard James Keenan, tanto ambiguas como inantingiveis por vezes, porque tambem assim se produz verdadeiramente a arte, como também do mais directo e explícito, a entrega e personalidade que aplica a cada palavra, a cada sussurro, a cada explosão! O seu inegável interesse pela anatomia humana, pelo esoterismo, pelo misterioso e as suas ligações à maçonaria é perceptivel em todas as obras. Grande parte da qualidade deste quarteto de Los Angeles reside também no simples facto de todos eles serem bons músicos. Pura e simplesmente. E talvez, pelo facto de não viverem exclusivamente para a música, e dela muito menos... Por exemplo o baterista Danny Carey é um catedrático com teses elaboradas sobre percurssão, Adam Jones em tempos participou na concepção de efeitos especiais computurizados para filmes, assim como Maynard e Justin, terem projectos paralelos. Não seguem nunca modas, nem se deixam pressionar no sentido de mudarem o seu rumo musical, sempre tiveram enorme liberdade criativa, conseguida , diga-se, com muito mérito e custo, não se moldam aos seus fans, mas sim o seu público absorve e se molda de livre vontade.

   São os pormenores, a atenção ao detalhe e o perfeccionsmo, toda a música construída apartir do baixo e da bateria em perfeita sincronização numa fusão com os riffs e solos "acessórios" da guitarra e da voz magistral de Maynard. Uma batida, um ritmo nunca acontece nem surge quando se pensa que ele vai surgir, é como um adiar inevitável do êxtase pelo qual ansiavamos.

   Ou se ama ou se odia, não existe o meio termo, não é nem será nunca uma banda consensual, e diga-se que ainda bem que assim é.

   São muito mais que uma banda, para além de abraçarem esta profissão com total profissionalismo, é uma forma de escape, de libertação pessoal, uma forma de expressão artistica, onde nem todos podem ou conseguem penetrar. Tal como dizia Pessoa: "Primeiro estranha-se, depois entranha-se", e construimos esta caixinha mágica onde guardamos só para nós estas autênticas pérolas musicais.

   Daqui um grande abraço para o João Brito, que é dos poucos que concorda com isto tudo."

 

 

                                                Alexandre Fernandes (01 Janeiro 2006)